sexta-feira, 24 de maio de 2013

Cartão Postal


Olhou para dentro de si, sentindo-se vazio, liberto, inerte à realidade à sua volta. O mundo já não era o mesmo. Afinal, qual era seu lar? Onde ele pertencia? Viajava não somente com o corpo, mas também com a mente, haviam sido tantas experiências, e em apenas doze meses, pode-se mudar completamente uma vida? As diferenças eram evidentes. 
A moça do outro lado visualizou o rapaz à sua frente. Percebeu cada ponto naquele olhar que em muito, se parecia com o oceano. Profundo, azul, distante. Observou seus cabelos louros despenteados pelo vento frio que soprava lá fora, a pele branca, gélida. Ele tinha lábios rosados, quase femininos, e aliás, que mal tinha se fossem, de fato, femininos? Não que ela fosse lésbica, mas os lábios femininos são quase que magnéticos, bem cuidados, atraentes. Só faltava um sorriso, torceu para que ele sorrisse, em vão. Ele bem que ensaiou um meio sorriso no meio de um de seus devaneios, mas metade não valia a sensação do riso inteiro. Sorrir é entregar-se.
Ele também ensaiou dizer algo, fato que ela acompanhou não só com o olhar, ela quase disse por ele. Mas então, ele logo calou-se levando a mão a boca devagar se censurando dela e de si mesmo. De nada valeu a censura, ela ouviu a voz imaginária na mente, o sotaque inglês ecoando vagarosamente, seguindo seu coração.
Então ela levantou-se e foi, foi encontrá-lo, desencontrá-lo, um ano, ou dois, talvez aqui, ou ali, acolá. No Brasil, no Paraná, em Portugal, em Coimbra, numa visita, numa viagem, numa amizade, num amor, num calor, ou frio, quem sabe no Rio/rio... Ou em qualquer lugar do mundo que esse cartão-postal chamado você resolva me encontrar.

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